Inter chega a 40 milhões de clientes e aposta no consignado privado para ‘engajar’ base
O Inter, banco digital da família Menin (donos da MRV) que vale US$ 3,6 bilhões na Nasdaq, alcançou 40 milhões de clientes nos últimos dias, disse à coluna o CEO da instituição no Brasil, Alexandre Riccio. O número representa um crescimento de quase 24% em comparação com junho do ano passado, segundo dados do Banco Central, e dois terços da meta estabelecida pelo próprio Inter para 2027: 60 milhões de clientes. O desafio pela frente é “engajar mais essa base”, analisa o executivo.
— Lançamos a conta digital em 2016 e, lá atrás, era muito improvável atingir esse número. Ninguém colocaria isso no papel, mas a regulação do BC para esse tipo de conta e ferramentas como o Pix foram protagonistas nesse processo. Só que conseguimos complementar a oferta com serviços como marketplace, lançado há seis anos, crédito, investimentos, conta global e programa de fidelização — afirma Riccio, ex-atleta do esqui aquático que está no banco da família Menin desde 2013.
De acordo com Riccio, depois de um salto na pandemia, seguido por uma freada em 2023, o Inter vem acelerando a atração de clientes desde o ano passado. O ritmo atual está na ordem de 750 mil novas contas abertas por mês. Mas o desempenho não é exclusividade da companhia mineira: com a abertura de conta facilitada pelo app, fintechs passaram a disputar até com bancos tradicionais as primeiras posições no ranking de clientes.
Segundo os dados do BC para o segundo trimestre, o Nubank tem mais de 106 milhões de correntistas, enquanto o PicPay tem quase 64 milhões; o C6 aparece com 32 milhões. Para efeito de comparação, o Bradesco tem 110 milhões; o Itaú, praticamente 100 milhões; e o Santander, perto de 69 milhões.
Transacional
No universo do Inter, as pessoas físicas respondem pela quase totalidade da clientela, com as pessoas jurídicas somando 2,5 milhões (sendo mais de 1 milhão de MEIs).
— O negócio de PJ é saudável, mas as pessoas físicas são ampla maioria. A base tem idade média na casa dos 33 anos, renda pouco maior que a média da renda per capita do país — explica.
Do total, 58% são clientes ativos: ou seja, geram receita para o Inter, seja mantendo dinheiro na conta ou comprando algum produto do ecossistema. O Inter tem, por exemplo, 8 milhões de correntistas que investem na plataforma, de R$ 10 no CDB a aplicações sofisticadas.
— Sabemos que a maior parte é de clientes com espírito transacional. O que a gente faz é educar esse cliente para que ele se engaje mais com a plataforma como um todo — acrescenta Riccio. — Mas este ano tem uma característica especial porque, na nossa visão, consolida muita coisa que a gente vem oferecendo. Vai ser um ano com maior ativação de clientes e engajamento, já que ficou mais claro para o correntista qual é o caminho para ter a experiência completa.
Porcas e parafusos
Uma das apostas é o consignado privado, recém-regulamentado pelo governo. A nova versão do produto surgiu nos últimos meses, e o Inter tem menos de 200 mil clientes na modalidade, mas ele “encaixa como uma luva na estratégia”.
— É um produto que já tem originação majoritariamente digital e encaixa bem com o perfil demográfico do nosso cliente, uma vez que a antecipação do saque-aniversário do FGTS é um dos nossos fortes. E é um produto indutor da abertura de conta. Ela não é obrigatória, mas muitos clientes já têm feito a abertura — observou o CEO. — E o potencial do segmento é se tornar um mercado de mais de R$ 200 bilhões, contra algo em torno de R$ 40 bilhões que privilegia apenas aposentados e servidores públicos.
Por ora, um dos empecilhos tem sido o custo. Embora o Inter trabalhe com juros médios de 3,7% ao mês — perto da média do mercado total, segundo o BC (3,79%) —, Riccio lembra que há instituições que chegam a cobrar até 8%.
— Acredito que haverá uma redução progressiva, conforme haja maturidade do produto. A inadimplência, por exemplo, ainda está alta, mas por questões operacionais, como empresas que se esquecem de escriturar o contrato ou deixam um CNPJ de fora. Não é necessariamente inadimplência para valer. Por isso, a gente vem falando da estabilização da plataforma. Estamos na fase de aperto de porcas e parafusos — comparou.
Leia também:
Inter avança em ambição global com cartão de crédito para residentes nos EUA
Câmara envia pedido de suspensão para deputados após obstrução
Share this content: